2019-05-25

Milton Cunha: LAÇOS DE AMOR e a administração das relações humanas pela DIREÇÃO DE HARMONIA

Anotações pessoais da excelente e instrutiva Palestra de MILTON CUNHA para a ASSORDHESERJ em 07 de maio de 2019 no Centro de Artes Calouste Gulbenkian (Praça XI - Centro - Rio de Janeiro – RJ). Texto e áudio


HISTÓRIAS DE LAÇOS DE AMOR
         Após saudar os presentes e dizer sentir-se honrado de ali estar, o palestrante Milton Cunha disse sentir uma “gastura” ao ouvir os mesmos reclames durante vinte e cinco anos, referindo-se ao pleito apresentado durante o período de perguntas feitas a  Célia Domingues, palestrante anterior. Isso porque naquele momento houve uma espécie de solicitação velada de que determinadas colocações fossem apresentadas as “autoridades” dentro da hierarquia das Escolas de Samba, o que culminaria com a VALORIZAÇÃO do segmento harmonia.
Mas disse estar disposto a enfrentar, mais uma vez, esse tipo de situação e contextualizou a situação do pessoal da Harmonia e diz estar feliz por estar ali, se apropriando das histórias contadas,         enquanto movimento, enquanto um grupo, citando as estórias que o Presidente da ASSORDHESERJ, Lourenço, o repassa.
OS MEMBROS DA HARMONIA”, disse, “SÃO A PONTA ATUAL DO ICEBERG”.

“QUEM SÃO VOCÊS?”
         “QUEM SÃO VOCÊS? O QUE REPRESENTAM NESSE UNIVERSO SIMBÓLICO?”. Com essa pergunta começa a narrativa, e pede que o grupo volte no tempo, um século antes, frisando: “A ESCOLA DE SAMBA É LAÇO DE AMOR”.

“Escola de Samba é comunidade de gente humilde, que não podendo ir ao cinema, ir ao teatro, pegar o bonde e ir passear lá no centro da cidade. E o que então faz?
Na própria comunidade, ao lado do barraco, eles têm um terreno baldio e lá eles vão tomar a cachaça e quem souber cantar, canta; quem souber tocar, toca; quem souber dançar, dança; quem souber compor, compõe. Então esse LAÇO DE AMOR que os reúne em diversão é a vitrine do artista popular em comunidade. ”
  
                  Esclarece então o caráter inoficioso desses encontros, dando como exemplo um time de futebol, que composto por amigos, deseja fundar um bloco. Ao lado e junto a esse grupo de amigos ressalta AS MATRIARCAS, as mulheres fortes da comunidade que são as responsáveis por alimentar esse grupo.

“LAÇOS DE AMOR; em volta da mesa dessa senhora, a macharada bebe, come, compõe e batuca. Nesse momento o amor une, Um grupo de LAÇOS DE AMOR. Nesse momento ainda não sabemos que isso vai dar em MANGUEIRA, em PORTELA, em ESTÁCIO... neste momento o amor os une, a diversão os une e eles estão fundando algo que, em cinquenta anos, vai se transformar em sinônimo da Nação enquanto cultura.”

Ressalta que isso só tem início, só começa como LAÇOS DE AMOR, laços de amizade. “Um bando de amigos querendo se divertir, sempre com sincretirmo religioso”. Esclarece que é dentro desse terreno começa o chamamos de RITUAL, e conceitua: “ritual é repetição exaustiva, a cada semana daquela liturgia, daquele cerimonial do grupo”.
Ao longo de cinquenta anos o grupo vai se organizando nesse ritual; em cada horário, uma atividade. O som do batuque sobe às 19:00 e às 20:00 o pavilhão; alguém recebe o pavilhão e às 21:00 se escolhe a mulher que melhor roda, para após a cabrocha mais bonita se apresentar, etc. “Uma sequência de atos em ritual”.

“QUEM VAI CUIDAR DA REPETIÇÃO DO RITUAL?”
Para chegar a função do que hoje chamamos de Diretor de Harmonia, afirma que no início é uma escolha tipicamente machista, que começa com homens.
Esse grupo de amigos escolhe os homens que têm voz, e comumente os escolhidos eram os líderes comunitários, que mandam, que são respeitados, pois eles que vão cuidar desse ritual, através dessa voz de comando. É um ritual que gradativamente vai se montando na prática.
Esse grupo de amor, ao mesmo tempo que tem um RITUAL DE QUADRA, também possui um RITUAL DE PROCISSÃO, que é quando esse grupo vai se apresentar para o resto da cidade.
Volta a tratar dos líderes comunitários, os homens que possuem voz de comando e que aos poucos acabam se investindo do papel de organizadores.

“ Se tornam os organizadores da gira; pois no fundo no fundo, nada mais é do que uma gira, sem que haja os transes de possessão. Há todo um ritual afro-brasileiro ali, por trás do batuque do tambor, do esquenta da bateria. ”

Surgem os líderes comunitários que são os senhores que tem voz de comando e que vão receber o título de DIRETORES DE HARMONIA. Passados 60 anos temos então as “estrelas”, que vão marcar para sempre a história desse ritual. Como havia salientado, é uma presença masculina, pois “ao Matriarcado cabia a questão da alimentação e da beleza dos trajes”.
Ao continuar a narrativa histórica, diz que foi nos anos 60-70 que “esses senhores viram o cartão de visita da generosidade, do amor, da educação, do seja-bem-vindo”, como se dissessem: esse é meu povo, o meu povo que canta, que dança e eu vou colocar eles para cantar e dançar, para que teu queixo caia.


É o orgulho de exibir o seu povo para os visitantes, Pretende-se exibir de forma perfeita a sua comunidade para o resto do mundo.
“É AMOR PROFUNDO, É ORGULHO PROFUNDO”.
Interessados em atrair cada vez mais componentes, com seu povo são de uma educação, de uma gentileza absurda.
-“Obrigado por você estar aqui”; “Cante mais alto; vamos mostrar para essa gente o grito de (nome da Escola)”.
Assim, o Diretor de Harmonia É LÍDER DE ENERGIA, cata a energia de quem tá chegando, seja na quadra ou na hora do desfile e por tratar-se de relação de amor, de amizade, também tem briga. “É família, só muda de endereço”, no que aconselha: “Aceita e tenta passar por cima dessa diferença pessoal e chega na melhor energia que você puder”.

DE BRAÇO-ABERTO AO CARA-AMARRADA: POSTURAS NO TEMPO
Mas no fim dos anos 80 o tipo cara-amarrada, fez um sucesso enorme, e muda a história do braço-aberto, vira um modelo que parece oriundo da ditadura militar.
O sambista perde a simpatia e o auge, nos anos 90, é o modelo da Imperatriz Leopoldinense, onde chega-se as varas para se bater nas pernas, como se tocasse um gado. “Alinhe-se e vai!” Parece que virou um serviço, como se fosse um bando de robôs.
Tem gente que gosta do modelo da simpatia e há quem prefira o novo modelo, da cara-amarrada.

O EQUILÍBRIO E A ATUAÇÃO FEMININA
A recomendação dada é equilibrar os dois modelos. Há de se trazer de volta os laços de amor, pois no final dos anos 90, início dos anos 2000 perdeu-se muitos sambistas, seja por maus-tratos, seja pela perda dessa noção de família, indo grande parte para BLOCOS e IGREJAS EVANGÉLICAS.
Vê como caminho refazer o ritual como 100 anos atrás: onde há a moça que roda, o tecido da bandeira como sagrado, etc.
Assim como todos os setores do mundo, as mulheres se embrenham dentro das Escolas, iniciando na Bateria, depois uma ou outra carnavalesca, Dirigente e entende que em cerca de 10 ANOS serão elas as protagonistas no setor de harmonia por serem experts, baseando-se no modelo de AMOR MATERNO (morde-e-assopra), sendo elas e sua forma de agir ideais para o encontro desse equilíbrio, superando fofocas, do disse-me-disse, etc., podem interferir nas situações de conflito, comuns, como em todas as famílias e relações de amor.

A ENERGIA MISTERIOSA e a ADMINISTRAÇÃO DO AMOR
Aos senhores, líderes comunitários, Diretores de Harmonia, cabe administra relações humanas seja em suas casas (Quadras), seja durante a procissão em andamento (Desfile). É esse membro que lida com os laços humanos e olha nos olhos dos membros de suas alas.
Assim recomenda que os homens e mulheres da harmonia sejam pessoas amadas e respeitadas pelo seu povo, e completa: “Gente, basicamente, vocês administram amor!”   
Ao receber na Quadra orienta como adequado em primeiro lugar RECEBER O SEU POVO e DEIXÁ-LOS A VONTADE para então, APÓS, virar-se para os visitantes, que ficarão impressionados com o NÍVEL DE AMOR que ali encontram.
Como que se dissesse: “VEJA COMO ESSA MINHA GENTE SE AMA E É BONITA. OLHEM O QUANTO ELES SANGRAM E CANTAM PELO PAVILHÃO. QUE MISTÉRIO É ESSE?”e conclui, respondendo a própria pergunta:
“É O MISTÉRIO ADMINISTRADO PELA DIRETORIA DE HARMONIA. ”


2019-05-22

Carnaval de Rua do Rio será debatido nesta quinta-feira (23/05/19)


EVENTO REÚNE SOCIEDADE, GOVERNO e MP

O Protocolo de Intenções para o Carnaval de Rua 2019 definiu estratégias para a organização do evento no Rio de Janeiro, discriminando a atuação de órgãos estaduais e municipais envolvidos diretamente no carnaval de rua e trata-se do “primeiro passo rumo ao marco regulatório para a festa popular – a ser futuramente definido por decreto ou lei municipal”, segundo o MP. O documento foi apresentado em 21/02 pelo Ministério Público e elaborado a partir da observação dos problemas enfrentados no ano anterior.
 Quando apresentado, o órgão ressaltou que o objetivo do Protocolo não é coibir manifestações populares e culturais, mas sim organizá-las de forma a possibilitar que as pessoas brinquem em segurança, sem prejuízo de moradores e comerciantes, impactando minimamente na rotina da cidade.
O carnaval de rua da cidade conta com cerca de sete milhões de pessoas distribuídos em diferentes pontos e durante diversos dias e possui uma dinâmica muito diferente, o que dificulta seu planejamento e o cálculo de risco por tratar-se de uma festa aberta sem cobrança de ingressos ou catracas.
O balanço das ações deste ano e a definição de aprimoramentos a serem adotados estava previsto inicialmente para 24/04, mas precisou ser adiado e será nesta quinta-feira (23/05).
 A audiência pública para discutir o balanço do carnaval de rua 2019 é aberto a representantes da sociedade civil e tem por objetivo discutir pontos positivos e negativos da organização da festa.