2017-08-30

OS ENREDOS MERITÓRIOS EM NITERÓI



OS ENREDOS MERITÓRIOS EM NITERÓI
por ROBERTO MORGADO



              Estamos na fase final de estudo constituído por levantamento e análise dos enredos apresentados pelas principais agremiações da cidade. A partir da análise dos dados referentes à TEMÁTICA DOS ENREDOS[1], constatamos que os ENREDOS MERITÓRIOS são o segundo assunto de maior incidência em nossa cidade.

              ENREDOS MERITÓRIOS são os que apresentam homenagem a pessoas ou personalidades, exaltando seus méritos, feitos e realizações na área que atuam. Nas palavras do Mestre FARIAS[2], ao referir-se em especial sobre os apresentados pelas Escolas de Samba do Grupo Especial no Rio de Janeiro define a temática como a que “versa sobre uma pessoa famosa que se destaca ou se destacou na sociedade ou um conjunto de pessoas, exaltando suas características, seus feitos e mostrando sua importância para a cultura brasileira. Muitos deles, dos mais recentes, são patrocinados pelo próprio homenageado.

              Em nosso estudo encontramos durante a análise dos dados muitas semelhanças entre os resultados da análise realizada por ARAÚJO[3], que tem por objeto a temática nas pequenas agremiações cariocas. Assim como aquelas, nas Escolas de Samba do Grupo Principal da cidade verifica-se a predominância de dois tipos de enredo: homenagem a personalidades e de temática afro-brasileira. A outra semelhança é o que o especialista[4] chama de dado complicador”, ou seja, dos enredos computados como homenagem a personalidades, grande parte destes são dedicados a personagens negros, possibilitando sua inclusão na categoria temática afro-brasileira.


ENREDOS MERITÓRIOS

              Nas observações feitas por HÉLIO RICARDO RAINHO sobre a escolha de ENREDOS MERITÓRIOS em um dos inúmeros vídeos disponíveis no PORTAL SRZD, o estudioso concentra suas considerações sobre a questão da APRESENTAÇÃO DA SINOPSE quando a Escola de Samba se propõe a apresentar um ENREDO-HOMENAGEM, destacando que a fundamentação da proposta para enredos dessa natureza precisa ater-se necessariamente a aspectos da apresentação intrínseca ao Desfile de Carnaval e que não são encontrados em outras manifestações artísticas. 


              Como bem disse o referido comentarista, para a adequação no plano estético-literário deve-se considerar que um enredo carnavalesco tem em sua natureza características próprias e a descrição histórica pode partir da CARREIRA do homenageado e esclarece que a PROPOSTA PLÁSTICA e o projeto como um todo É (e em nosso entender, sempre será!) um DESAFIO para o CARNAVALESCO. Afinal, a simples descrição biográfica dentro de um enredo carnavalesco podem não empolgar. Foi feliz ao exemplificar os Enredos sobre Zico, Luma de Oliveira, Lamartine Babo, Ary Barroso e o da campeã de 2016 (Mangueira - Maria Betânia).

              A necessidade de objetividade, contrapondo-se a presença comum de subjetividade percebida em muitas SINOPSES, foi ao final abordada por REIS e entendemos como uma orientação necessária e esclarecedora para atuais e futuros carnavalescos, independente da categoria em que esteja inserida a Escola de Samba que atue, pois enfatiza: “sinopse não é monografia”.



SOUZA SOARES E SEUS ENREDOS MERITÓRIOS

              Interessante o recente caso de uma Agremiação de Niterói, a SOUZA SOARES. Faço questão de citá-la antes mesmo da publicação de nosso estudo, intitulado TIPOS DE ENREDO NO GRUPO PRINCIPAL DE NITERÓI – 2006/2017.

              A Agremiação voltou a desfilar na cidade em 2010, se apresentando no GRUPO ÚNICO de Escolas de Samba de Niterói e que definiria quais os membros da CATEGORIA PRINCIPAL e CATEGORIA DE ACESSO dentre as Escolas de Samba. Naquela oportunidade o enredo foi sobre MARIA QUITÉRIA DE JESUS – O Soldado Medeiros.

              A sexta colocação dentre as lhe garantiu o direito de figurar entre as 7 Agremiações que no ano seguinte (2011) estariam no GRUPO PRINCIPAL. O carnavalesco Chico Corrêa voltou então a apostar neste tipo de enredo e homenageou NOCA DA PORTELA, fazendo que o último lugar determinasse o seu rebaixamento para o GRUPO DE ACESSO (atual GRUPO A).

              Nos três anos que se seguiram (2012-2015), possivelmente achando que iniciativas dessa monta não lhe favorecesse, a verde e branco de Santa Rosa evitou enredos sobre pessoas e personalidades. Foi sob a batuta do competente Presidente A.Castellar, o “Ping-Pong”, que a Souza Soares tornou a apresentar enredos dessa natureza.


              A mobilização das comunidades de Santa Rosa foi determinante para o sucesso naquele ano. A quadra da Escola foi invadida pelos moradores do Zulu, União e Souza Soares já nas eliminatórias para escolha do samba enredo, permanecendo assim durante os ensaios e demais eventos que tornaram a Quadra destino de muitos sambistas durante os finais de semana. Com um desfile inusitado, grandioso e impecável tecnicamente, acabou por voltar ao Grupo Principal ao vencer a disputa para acessar a elite de Agremiações com o enredo sobre a passista Cris Alves: Rainha de Ébano, estrela de todos os carnavais.

             Com a renúncia do querido líder comunitário como Presidente da Agremiação após o sucesso de 2016 e garantido à Souza Soares o desfile junto as Agremiações volta ao Grupo Principal de Escolas de Samba de Niterói, que se realiza  na terça-feira de carnaval, a definição do enredo dessa vez foi feita por uma Comissão de Carnaval criada pela nova Diretoria.

              Intitulado Mestre Cartola o divino poeta do samba, prestou homenagem ao mais nobre Mangueirense mas a Escola de Santa Rosa fez um desfile pouco animado e com muitas falhas, decepcionando platéia e jurados, o que determinou novamente o rebaixamento da Agremiação para a categoria de Acesso, deixando o Grupo de elite do carnaval da cidade.




              Os supersticiosos podem afirmar que não se deve, consecutivamente, apresentar essa categoria de enredo, ou então que são as mulheres (Maria Quitéria e Cris Alves) que favorecem os resultados, enquanto homenagem a sambistas (Noca e Cartola) traz algum tipo de empecilho ou mau agouro ao bom desempenho da Escola na Rua da Conceição.
              Saindo completamente do plano astral ou místico, acreditamos que algumas falhas administrativas – como a falta de mobilização de setores da Agremiação para integrar a comunidade aos anseios da Escola - acabam por refletir desfiles ruins, como os que fazem com que uma das mais queridas e tradicionais Escolas de Samba da cidade viva entre a vitória e o fracasso, entre o Principal e o Acesso, entre a felicidade e a tristeza.


[1] TIPOS DE ENREDO NO GRUPO PRINCIPAL DE NITERÓI – 2006/2017
[2] FARIAS, Júlio César. O enredo de escola de samba. Rio de Janeiro: Litteris, 2007, p.57
[3] ARAÚJO, Eugênio. In Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares, v. 7. n. 2, nov. 2010, P.155
[4] Eugênio Araújo é Professor Assistente do Departamento de Artes da UFMA, mestre em História da Arte e doutor em Artes Visuais pelo PPGAV/EBA/UFRJ.

2017-08-27

Escolas "Embaixadoras" - algumas considerações

              Ao revermos nesse fim de agosto um dos vídeos do PORTAL SRZD - referência em carnaval em virtude de sua abordagem séria e técnica sobre aspectos relevantes nos desfiles de Escolas de Samba, percebemos que continuam atuais e oportunas as considerações que ali se discutem.
              Tomamos por exemplo a abordagem de Luiz Fernando Reis ao tratar da ida da  Acadêmicos do Sossego para a SÉRIE A. Em suas palavras: “É um salto muito grande!”.
              Exatamente assim que percebíamos a situação naquele momento e poucos dias antes da apresentação do enredo já havíamos chamado a atenção de representante do Poder Público sobre esse aspecto, vez que o valor pago a essa Agremiação é 1/5 do revertido em favor da escola do Barreto e 1/3 do entregue a agremiação do Cubango.


            Continuamos crendo que a MERITOCRACIA é o melhor dentre os critérios para repartir o valor repassado entre as Agremiações que desfilam no Rio de Janeiro, ou seja, CUBANGO, VIRADOURO e SOSSEGO.
              A comentarista Rachel Valença no mesmo registro também abordou a questão,  lembrando que muitas das Escolas de Samba que hoje estão na Série A possuem um histórico recente de GRUPO ESPECIAL, sendo esta "briga de cachorro-grande".
              Concordamos com o que foi dito no referido vídeo, que analisava a sinopse do enredo que havia sido apresentada pelo carnavalesco do Sossego, ao qual inúmeros elogios foram feitos.
              Concordamos que assim como no Grupo Especial, a Série A do carnaval carioca é disputa para fortes e, sendo assim, vislumbramos um bom lapso temporal entre a chegada de uma de nossas Escolas de Samba “EMBAIXADORAS” neste Grupo de elite do maior espetáculo da terra, sendo a manutenção de nossas três queridas Escolas na Série A - evitando o retorno de quaisquer delas para categoria desfilante na Intendente Magalhães - é, na atual conjuntura, o que devemos resguardar e podemos, ao menos em médio prazo, almejar. 



2017-08-14

Senador C.Buarque tentou 10 anos atrás a aprovação de excelente projeto

PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 480 de 2007 Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014. O CONGRESSO NACIONAL decreta:  
Art. 1º Os agentes públicos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal são obrigados a matricular seus filhos e demais dependentes em escolas públicas de educação básica. 
Art. 2º Esta Lei deverá estar em vigor em todo o Brasil até, no máximo, 1º de janeiro de 2014. Parágrafo Único. As Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas Estaduais poderão antecipar este prazo para suas unidades respectivas.

JUSTIFICAÇÃO No Brasil, os filhos dos dirigentes políticos estudam a educação básica em escolas privadas. Isto mostra, em primeiro lugar, a má qualidade da escola pública brasileira, e, em segundo lugar, o descaso dos dirigentes para com o ensino público. Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios. Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos. Pode-se estimar que os 64.810 ocupantes de cargos eleitorais –vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores e seus suplentes, governadores e vice-governadores, Presidente e Vice-Presidente da República – deduzam um valor total de mais de 150 milhões de reais nas suas respectivas declarações de imposto de renda, com o fim de financiar a escola privada de seus filhos alcançando a dedução de R$ 2.373,84 inclusive no exterior. Considerando apenas um dependente por ocupante de cargo eleitoras.
O presente Projeto de Lei permitirá que se alcance, entre outros, os seguintes objetivos:

a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo;
b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a conseqüente melhoria da qualidade dessas escolas.
c) financeiro: evitará a “evasão legal” de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do setor público, inclusive para a educação;
d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil.

Se esta proposta tivesse sido adotada no momento da Proclamação da República, como um gesto republicano, a realidade social brasileira seria hoje completamente diferente. Entretanto, a tradição de 118 anos de uma República que separa as massas e a elite, uma sem direitos e a outra com privilégios, não permite a implementação imediata desta decisão. Ficou escolhido por isto o ano de 2014, quando a República estará completando 125 anos de sua proclamação. É um prazo muito longo desde 1889, mas suficiente para que as escolas públicas brasileiras tenham a qualidade que a elite dirigente exige para a escola de seus filhos.
Seria injustificado, depois de tanto tempo, que o Brasil ainda tivesse duas educações – uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo –, como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres.
Diante do exposto, solicitamos o apoio dos ilustres colegas para a aprovação deste projeto. Sala das Sessões, Senador CRISTOVAM BUARQUE