2018-06-12

A SAMBÓPOLIS DE 1982 – parte II


NOSSO SAMBÓDROMO
          Niterói foi o primeiro município do Estado a planejar um local específico aos desfiles das escolas de samba, anos antes do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no centro do Rio. Construído em estrutura de ferro, o projeto foi adaptado para levar o Carnaval, que acontecia na principal rua do Centro, a Avenida Amaral Peixoto, para área próxima ao Terminal Norte,onde hoje é conhecido como “Caminho Niemeyer” e não agradava os sambistas da época.
          Em 1983 Sambópolis tinha capacidade para abrigar até 10 mil foliões e dividido em oito módulos.
          Atualmente Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos utilizam a Rua da Conceição, também no Centro, para suas apresentações em dois dias.
          Dessa forma, em determinado momento Niterói chegou até mesmo a possuir mais de um lugar destinado aos desfiles na cidade:
1.    SAMBÓPOLIS, para desfile disputados entre Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos;
2.    AMARAL PEIXOTO, para Blocos de Enredo, Embalo e de arrastão;
Leia a Segunda parte do texto 
A SAMBÓPOLIS DE 1982.

A SAMBÓPOLIS DE 1982 – parte II
LP DOS SAMBAS-ENREDO DE 1982
            Na obra “Antigamente é que era bom” que nos referimos na Introdução constante na primeira parte do texto descreve a importância do lançamento do LP para a divulgação do carnaval e o clima na cidade naquele ano de 1982(p.230):
        “O carnaval naquele ano não foi menos que espetacular, com grande público nas arquibancadas do Sambópolis, onde desfilaram os blocos no sábado e do Grupo 1 na segunda de carnaval. As bandas desfilaram na avenida Amaral Peixoto no sábado de carnaval e o segundo grupo no domingo. Niterói respirava samba-enredo. A Enitur queria consolidar os festejos como os melhores de todos os tempos (...) a Empresa Niteroiense de Turismo e a Associação das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Niterói lançaram um álbum fonográfico com todos os sambas-enredo das agremiações, que fez sucesso nas rádios da cidade e do Brasil como um todo.”

          Após o sucesso do lançamento do LP dos sambas-enredos de 1979, a população ficou frustrada com a ausência de tal iniciativa em 1980. Em 1981 voltou a ser lançado LP com sambas enredo das Agremiações. Porém, quando lançou o LP para os desfiles de 1982 que ocorreriam na SAMBÓPOLIS, nem mesmo a ENITUR (atual NELTUR) tinha ideia do sucesso que faria.  
          Na edição daquele ano foram 12 as Escolas de Samba contempladas, sendo as mesmas:
LADO A
G.R.E.S. Unidos Do Viradouro
G.R.E.S. Corações Unidos
G.R.E.S. Combinados do Amor
G.R.E.S. Acadêmicos Do Sossego
G.R.E.S. Moc.Ind. do Bairro Almerinda
G.R.E.S. Império Gonçalense

LADO B
G.R.E.S. Acadêmicos do Cubango
G.R.E.S. Souza Soares
G.R.E.S. Caçadores da Vila
G.R.E.S. União da Ilha da Conceição
BLOCO Camisolão
G.R.E.S. Bugres do Cubango

 GRUPO PRINCIPAL – DESFILE DE SEGUNDA-FEIRA

          Abriu a noite do Grupo Principal de Escolas de Samba naquele 22/02/1982 o G.R.E.S. União da Ilha da Conceição com ”Da História Para A Avenida O Colorido Vivo De Debret”, desenvolvido pelo carnavalesco João Carlos Cunha(Carlinhos). Com 1500 componentes e um animado samba-enredo composto por Reginaldo, Artur e Jorge, interpretado por Jorginho, já deixava claro que a disputa seria acirrada e as apresentações grandiosas.
          Segui-se o G.R.E.S. Acadêmicos Do Sossego que trouxe “Pindorama, o país do futuro”, enredo desenvolvido por Tânia e Marcos Madeira inspirada na obra do escritor, ensaísta e dramaturgo Oswald de Andrade, um dos promotores da Semana de Arte Moderna de 1922 e que também serviu de inspiração ao movimento Tropicalista.
          O samba-enredo foi composto e interpretado pelo saudoso Odir Sereno. A letra era a seguinte:
N'um clima de intensa alegria
No calor desses três dias
Vamos apresentar
Ave de costumes brasileiros
Que o povão com muito orgulho
Faz questão de preservar

O dourado sol
Prateado do luar
Flores lindas perfumadas
A desabrochar
E a passarada toda a cantar

Era tão bonito que saudade dá
Ao chegar aqui o estrangeiro
A população inteira
Não podia imaginar
Que a sua intenção era uma só
Fazer suas maneira
A nossa gente adaptar
Com personalidade superamos
E isso muito nos favoreceu
Mostramos que com força de vontade
O Pindorama então se reergueu (se reergueu)

Somos uma nova geração
De um povo muito forte e seguro
Que mostrou ao estrangeiro
Que o Pindorama
É o país do futuro!

Canta negro, canta índio
Bate na colher de pau
Faz resposta tumbadora
Porque hoje é Carnaval
Canta negro, canta índio
Bate na colher de pau
Vestido de azul e branco
É Sossego colossal!

          Terceira Escola de Samba a se apresentar, o G.R.E.S. Caçadores da Vila trouxe o enredo “Do Berço Dos Imigrantes Ao Templo Dos Deuses” de Maurício Sobral. A Escola não foi bem e obteve a sexta colocação.
          “Ai Que Saudades Da Amélia” foi o enredo de Floriano de Carvalho que deu a quinta colocação ao G.R.E.S. Combinados do Amor. O samba-enredo é de Maurinho, Chiquinho Melodia e Timbó, também Puxador do samba.
          O enredo “Tá Tudo Bem? Sei Lá… Vamos A Luta Que A Vida é Curta” desenvolvido por José de Souza para o G.R.E.S. Souza Soares tratou das contradições que até hoje se fazem presentes no país. Falava das riquezas de nossa terra e a Souza “sorria, para não chorar”. Abordava o atual tema do desemprego e do trabalho informal, listando as dificuldades do trabalhador, que ao despertar do relógio, muito embora acordado por seu amor não podia se atrasar pois “outro batente não é fácil arranjar”.
          Mas a Souza Soares cantou com vontade o samba de GELSON, compositor de inúmeros sambas de sucesso que junto com Bernardo e o puxador Beto compuseram.  A quinta Escola de Samba a se apresentar obteve a quarta colocação e na canção se destacava a parte onde cantava-se:

“Vamos a luta
que a vida é curta
e não se pode esmorecer
oh, Meu bem
vem cantar ao meu lado
vamos sambando
pra tristeza esquecer

corre corre prá lá
corre corre prá cá
tá tudo bem
sei lá, sei lá”

          O magistral e renomado carnavalesco Alexandre Louzada conseguiu a segunda colocação para o G.R.E.S. Corações Unidos com o enredo “De Lá Pra Cá O Carnaval Continua”. O samba é de autoria de Edinho, Aroldo e José Carlos Ornellas, que foi o Puxador do samba-enredo de sua co-autoria.
          G.R.E.S. Acadêmicos do Cubango, com “Olimpo De Olimpia” teve o samba enredo composto por Serginho da Cubango, Anilson Leão e Carlinhos Japona, que puxou o samba.  O enredo de Luiz Fernandes e Ricardo Aquino deu a terceira colocação a Agremiação.
          Última a se apresentar. o G.R.E.S. Unidos Do Viradouro conseguiu  o 1º Lugar com o enredo de Augusto Henrique Alves, “Motou Muido Kitoko”. O samba-enredo composto por por Vanildo e Augusto H. Alves foi puxado por Silvinho do Pandeiro. Fechou-se o Desfile cantando:
Vestiram a avenida de alegria
Antes de raiar o dia
Dando um show de visual
Viradouro vem completar a beleza
Desse nosso carnaval

Mutou Muido Kitoko
Nesta história genial
Do negro sensacional

Iererê, iererê
Na magia do samba negro vem saber (bis)

Vindo da África distante
Através dos mares
O negro aqui chegou
Ecoando o canto de nobreza
Que a nossa música influenciou
Na arte e na cultura
Na ciência e na literatura
Podemos sentir no ar
A contribuição que o negro dá

Negro tem a cor mais linda que a noite
As estrelas como esplendor
A lua como seu amor (bis)

Em breve: 
1983 – O ÚLTIMO ANO DA SAMBÓPOLIS